segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vergonha Nacional_4/7


Revista Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por Laura Diniz e Carolina Rangel
Com reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel Marques

Entrevistas feitas por VEJA com jovens, pais e funcionários de bares de norte a sul do Brasil refletem com precisão a teoria do ”mal menor“ captada pelas pesquisas. Uma mãe de Porto Alegre, por exemplo, disse que incentiva os filhos a beber em casa com os amigos, para que não façam isso na rua, onde estariam desamparados. Ela acredita que assim está protegendo devidamente os meninos. Outros, como um garçom de Belém, admitem vender bebidas a menores, porque, se ele não o fizer, “outra pessoa vai fazer”. Documentos de identidade falsificados, companhia indispensável na noitadas, são aceitos à larga. E a completa falta de fiscalização por coibir tanto o consumo como a venda das bebidas é a regra. Vende-se livremente porque não há a menor possibilidade de punição. Algumas iniciativas isoladas, no entanto, começam a atacar o problema. Em outubro do ano passado, o governo paulista sancionou uma lei que prevê multa de até 92.000 reais a estabelecimentos que vendam bebida a menores, mudando o eixo da correção da pessoa física – o garçom incauto – para a jurídica – o dono do empreendimento. Quase 200.0000 locais já foram inspecionads, mas em menos de 1.000 ouve punição, o que demonstra que ainda há um longo caminho a percorrer. Campanhas mais localizadas também têm surtido efeito. Em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, moradores se mobilizam desde 2008 para diminuir o consumo de álcool entre os jovens. Nem o tradicional quentão é mais servido nas festas juninas, e o número de lugares que vendem bebida a menores caiu cerca de 50% - abaixo da média brasileira, mais ainda um escândalo.

Esse cenário de vergonha nacional requer, antes de tudo, uma mudança de mentalidade. Até recentemente, pouca gente achava que o cinto de segurança era um acessório útil – ou via algum problema em estar ao lado de um fumante num bar ou em outro ambiente fechado. Essas visões não mudaram a partir da criação de novas leis, mas a partir do momento em que a obediência às regras passou a ser cobrada. A fiscalização precisa ser apertada nas ruas e o rigor tem de aumentar em casa. Nos dois casos, o caminho mais seguro para proteger os adolescentes da ciladas do álcool é um só: seguir a lei. Bebida, só depois dos 18.

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