Revista
Veja n° 2277, de 11.07.2012 – pags. 80/86
por
Laura Diniz e Carolina Rangel
Com
reportagem de Kalleo Coura, André Eler, Alessandra Medina e Manoel
Marques
Entrevistas
feitas por VEJA com jovens, pais e funcionários de bares de norte a
sul do Brasil refletem com precisão a teoria do ”mal menor“
captada pelas pesquisas. Uma mãe de Porto Alegre, por exemplo, disse
que incentiva os filhos a beber em casa com os amigos, para que não
façam isso na rua, onde estariam desamparados. Ela acredita que
assim está protegendo devidamente os meninos. Outros, como um garçom
de Belém, admitem vender bebidas a menores, porque, se ele não o
fizer, “outra pessoa vai fazer”. Documentos de identidade
falsificados, companhia indispensável na noitadas, são aceitos à
larga. E a completa falta de fiscalização por coibir tanto o
consumo como a venda das bebidas é a regra. Vende-se livremente
porque não há a menor possibilidade de punição. Algumas
iniciativas isoladas, no entanto, começam a atacar o problema. Em
outubro do ano passado, o governo paulista sancionou uma lei que
prevê multa de até 92.000 reais a estabelecimentos que vendam
bebida a menores, mudando o eixo da correção da pessoa física –
o garçom incauto – para a jurídica – o dono do empreendimento.
Quase 200.0000 locais já foram inspecionads, mas em menos de 1.000
ouve punição, o que demonstra que ainda há um longo caminho a
percorrer. Campanhas mais localizadas também têm surtido efeito. Em
Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, moradores se mobilizam
desde 2008 para diminuir o consumo de álcool entre os jovens. Nem o
tradicional quentão é mais servido nas festas juninas, e o número
de lugares que vendem bebida a menores caiu cerca de 50% - abaixo da
média brasileira, mais ainda um escândalo.
Esse
cenário de vergonha nacional requer, antes de tudo, uma mudança de
mentalidade. Até recentemente, pouca gente achava que o cinto de
segurança era um acessório útil – ou via algum problema em estar
ao lado de um fumante num bar ou em outro ambiente fechado. Essas
visões não mudaram a partir da criação de novas leis, mas a
partir do momento em que a obediência às regras passou a ser
cobrada. A fiscalização precisa ser apertada nas ruas e o rigor tem
de aumentar em casa. Nos dois casos, o caminho mais seguro para
proteger os adolescentes da ciladas do álcool é um só: seguir a
lei. Bebida, só depois dos 18.
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